Inteligência Emocional em SST

Por que emoções importam na segurança do trabalho

Líderes que sabem nomear emoções — dizer “estou frustrado”, “estou apreensivo”, “estou animado” — conseguem reduzir a reatividade do sistema de ameaça do cérebro (a amígdala) e ativar o córtex pré-frontal ventrolateral direito, região ligada à regulação e à tomada de decisão. O resultado é simples e poderoso: menos impulsividade, mais discernimento e melhores escolhas sob pressão.

Essa não é só uma curiosidade acadêmica. No campo da segurança, onde decisões rápidas definem se um desvio vira quase-acidente ou acidente grave, essa habilidade pode salvar vidas. Estudos da UCLA confirmam esse efeito do “rotular emoções” no cérebro humano.

No nível organizacional, os números são igualmente claros. A Gallup estima que 70% da variação no engajamento de um time se explica pela qualidade do gestor direto. O relatório global de 2024 mostra engajamento em queda (21%), com líderes sendo os mais impactados por estresse e fadiga. E olhando para o futuro, a McKinsey projeta que a demanda por habilidades socioemocionais vai crescer 26% até 2030. Ou seja: inteligência emocional não é “soft skill” — é núcleo da produtividade, segurança e sustentabilidade operacional.


Emoções como indicadores de necessidades

A pirâmide de Maslow ajuda a entender por que emoções são sinais valiosos. Quando alguém demonstra desmotivação, isso pode indicar falta de propósito. Se reage com raiva, talvez seu senso de justiça esteja sendo violado. Insegurança pode revelar um diálogo interno negativo. Essas pistas são como indicadores de painel: mostram necessidades humanas não atendidas.

Líderes que leem esses sinais conseguem alinhar rotinas de SST a necessidades básicas de segurança, pertencimento, reconhecimento e propósito. E quando isso acontece, há mais adesão a procedimentos, menos desvios e melhor clima de equipe.



Mude o estado, mude o resultado

Marc Brackett, da Universidade de Yale, desenvolveu o Mood Meter, que organiza emoções em quatro quadrantes (energia × valência). Esse modelo é altamente aplicável em SST:

  • Vermelho (alta energia negativa): típico de discussões tensas ou auditorias. Ações recomendadas: pausas e respiração 4-6-8.
  • Amarelo (alta energia positiva): ideal para brainstorms, DDS dinâmicos ou discussões de “o que pode dar errado?”.
  • Azul (baixa energia negativa): bom momento para análises críticas de risco ou incidentes.
  • Verde (baixa energia positiva): mais adequado para tomada de decisão e escuta empática em feedbacks.

Com poucos minutos de checagem, o líder direciona atividades de acordo com o estado emocional da equipe, aumentando a eficácia.


Antifragilidade: crescer com o estresse

Nassim Taleb cunhou o termo antifragilidade para descrever sistemas que não apenas resistem, mas crescem com o estresse. Em SST, isso significa transformar quase-acidentes e desvios em aprendizado estruturado.

Em vez de buscar culpados, equipes antifrágeis fazem um debriefing rápido pós-incidente: analisam a causa, compartilham aprendizados e ajustam processos no PGR ou POP já no dia seguinte. Isso cria uma cultura de evolução contínua.


Agilidade emocional: respondendo melhor às crises

Susan David, em Emotional Agility, descreve três padrões comuns diante de emoções difíceis: repressão, ruminação e agilidade. O líder emocionalmente ágil não ignora nem dramatiza — ele nomeia a emoção, aceita como dado e escolhe a resposta alinhada aos seus valores e metas de segurança.

Essa habilidade é vital em momentos de crise, quando há pressão por resultado e risco elevado.


Dez rituais de liderança emocional (prontos para uso)

  1. Check-in de 60s no DDS: cada um diz uma palavra do Mood Meter; ajuste a dinâmica conforme o clima.
  2. Respiração 4-6-8: 4s inspirar, 6s segurar, 8s expirar antes de reuniões tensas.
  3. Nomear → Necessidade → Ação: “Estou preocupado → preciso de clareza → vamos revisar o POP juntos.”
  4. Comunicação Não Violenta (Rosenberg): observação → sentimento → necessidade → pedido claro.
  5. Perguntas melhores (Rick Hanson): “Qual menor ação reduz 80% do risco agora?” ou “O que já funciona que podemos ampliar?”.
  6. Propósito explícito (Simon Sinek): todo toolbox talk começa pelo “porquê” da tarefa.
  7. Liderança ressonante (Daniel Goleman): foque em conexão emocional, não só em comando.
  8. Debrief antifrágil pós-quase-acidente: 15 minutos de feedforward, sem culpas.
  9. Segurança psicológica (Amy Edmondson / Project Aristotle): ninguém é punido por levantar dúvida ou erro.
  10. PERMA (Martin Seligman): programe micro-momentos semanais de emoção positiva, engajamento, propósito e conquistas.



Conversas difíceis e feedback eficaz

Feedback é parte essencial da liderança em SST. O segredo é unir inteligência emocional e método:

  • Prepare-se antes: regule seu estado; o líder é o “termóstato emocional” do grupo (Daniel Goleman).
  • Use CNV em 4 passos:
  • Observação: “No turno das 14h, vi você sem óculos ao cortar a chapa.”
  • Sentimento: “Fiquei preocupado.”
  • Necessidade: “Precisamos garantir integridade ocular e conformidade.”
  • Pedido: “Vamos revisar o POP juntos e combinar um lembrete no pré-tarefa?”
  • Finalize com plano de ação/Feedforward: dono, prazo e acompanhamento.

Reconhecimento também é feedback. Muitos profissionais relatam não receber retorno regular de seus líderes. Valorizar conquistas e boas práticas reforça comportamentos seguros.


Engajamento que previne incidentes

Simon Sinek afirma que líderes inspiram começando pelo “porquê”. Em SST, isso significa ligar cada tarefa ao impacto humano: óculos que preservam visão, luvas que protegem mãos, protocolos que salvam vidas.

Delegar conforme pontos fortes, celebrar relatos de quase-acidentes e incluir indicadores de clima (segurança psicológica, percepção de justiça, alinhamento ao propósito) no dashboard ajudam a construir uma cultura justa e engajada.


Segurança psicológica: base da alta performance

Amy Edmondson e o Project Aristotle, do Google, demonstraram que equipes com segurança psicológica são mais inovadoras, produtivas e seguras.

Timothy R. Clark propõe quatro estágios para implementar:

  1. Inclusão: todos têm voz no DDS.
  2. Aprendizado: erros são tratados como dados para evolução.
  3. Contribuição: autonomia cresce com a maturidade.
  4. Desafio: questionar o “sempre fizemos assim” é encorajado.


Três microtécnicas de neurociência no bolso do colete

  • Rotular emoções: “Estou tenso → preciso pausar 2 minutos.”
  • Journaling de 5 min no fim do turno: “O que aprendi? O que faria diferente amanhã?”
  • Alongamento + respiração consciente antes de tarefas críticas: reinicia o sistema autonômico e melhora foco executivo.


Felicidade produtiva: prazer + propósito

Paul Dolan define felicidade como a soma de prazer e propósito ao longo do tempo. Aplicado ao trabalho, isso significa jornadas com micro-alegrias (reconhecimento, aprendizado prático) e propósito claro (impacto real em saúde e vida). O modelo PERMA, de Martin Seligman, ajuda líderes a planejar rituais semanais que sustentam bem-estar e produtividade.



Modelo pronto para o próximo DDS (15 minutos)

  1. Why (1 min): explique por que a tarefa importa.
  2. Check-in (2 min): cada um escolhe uma palavra do Mood Meter.
  3. Risco-chave (3 min): 1 cenário crítico + 2 barreiras + 1 verificação.
  4. Pergunta melhor (2 min): “Qual menor ação reduz 80% do risco agora?”
  5. Compromissos visíveis (3 min): duplas declaram 1 ação e 1 sinal de perigo a observar.
  6. Check-out (4 min): feedback rápido com CNV + reconhecimento de boa prática.


Conclusão

Segurança é relacional. Ao unir inteligência emocional, propósito e segurança psicológica, líderes de SST constroem equipes mais engajadas, produtivas e resilientes.

Aplique os rituais por duas semanas e acompanhe três sinais:

  1. Mais participação espontânea.
  2. Mais relatos de quase-acidentes e boas capturas de risco.
  3. Menos retrabalho por falhas de comunicação.

Esses são indicadores de uma cultura segura em construção.


Sobre a autoria e créditos

Conteúdo inspirado no curso Liderança com Inteligência Emocional de Paula Roosch (LinkedIn Learning), ampliado com pesquisas de Gallup, McKinsey, Yale, HBR, Google, Amy Edmondson, Daniel Goleman, Martin Seligman, entre outros — traduzido aqui para o cotidiano de técnicos e engenheiros de SST.


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Perguntas frequentes (FAQ)

1. O que é Inteligência Emocional em SST?

É a capacidade do líder de perceber, nomear e regular emoções próprias e do time para tomar decisões melhores, comunicar com clareza e reduzir riscos.

2. Como medir se minha liderança emocional funciona?

Três sinais práticos: mais participação espontânea, mais relatos de quase-acidentes, menos retrabalho por falhas de comunicação.

3. Como aplicar o Mood Meter sem parecer “sessão de terapia”?

Use linguagem simples: “Numere de 1 a 4 como está seu estado hoje.” Se houver muito “1” ou “4”, ajuste atividade ou faça uma pausa.

4. E se eu estiver emocionalmente desregulado antes de um DDS?

Protocolo de 2 minutos: respire 4-6-8, nomeie a emoção, defina objetivo, escolha o tom firme e respeitoso e use CNV.

5. Vulnerabilidade é fraqueza?

Não. Vulnerabilidade é admitir limites para resolver melhor; fraqueza é fugir da responsabilidade.

6. Como dar feedback corretivo em infrações graves?

Use CNV em 4 passos e feche com plano de ação (feedforward).

7. Como criar segurança psicológica com terceirizados?

Estabeleça contrato social, faça rodízio de voz no DDS, promova debrief sem culpas e reconheça quem levanta riscos.

8. O que fazer quando falta tempo?

Invista em micro-rituais: check-in de 60s, uma pergunta melhor e debrief de 10 min no fim do turno.

9. Como engajar gerência/direção?

Apresente business case ligando clima a produtividade e mostre indicadores visíveis de impacto (quase-acidentes tratados).

10. Humor ajuda ou atrapalha?

Humor respeitoso aproxima; piadas que diminuem pessoas ou normalizam riscos corroem confiança.

11. Como aplicar em times remotos?

Check-in por chat, câmeras ligadas em reuniões críticas, pausas combinadas e uso de paráfrase para reduzir ruídos.

12. Erros comuns a evitar

Tratar IE como “papo mole”, acusar em vez de nomear sentimentos, buscar culpados após incidentes ou tentar implementar tudo de uma vez.

13. Script rápido para DDS de amanhã

Why da tarefa → Check-in → Risco-chave → Pergunta melhor → Check-out com feedback e reconhecimento.

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Herberth Andrade

SOBRE O AUTOR

Herberth Andrade

Herberth Andrade é engenheiro de segurança do trabalho com 12 anos de experiência, fundador do projeto Andrade Safe. Dedicado a contribuir para o desenvolvimento de profissionais da área, Herberth compartilha soluções práticas para técnicos, engenheiros e gestores aprimorarem suas abordagens em segurança, focando na prevenção de acidentes e fortalecimento de uma cultura sólida de segurança nos ambientes de trabalho. É apaixonado por promover a eficácia e o reconhecimento da segurança do trabalho no Brasil.

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